Desde as grandes manifestações populares de 2013, a pauta política veio com força para o centro das discussões em todos os contextos da sociedade brasileira. Por causa das mídias sociais, ideias e debates que antes encontravam espaço apenas em ambientes acadêmicos e à mesa de algumas elites intelectuais, passaram a ser discutidos em todos os cantos - desde os botecos nas praças, até aos bancos das igrejas.
Essa nova realidade acentuou o cenário de polarização política e acirrou o tom do debate na esfera pública. Com isso, um novo Brasil veio à tona: um país cujos habitantes sabem o nome dos ministros do STF, reconhecem os presidentes das duas casas legislativas do Congresso Nacional, mas pouco se interessam pela escalação da Seleção Brasileira de Futebol.
Em meio a essa convulsão social, o movimento evangélico brasileiro - por mais plural e multifacetado que seja - percebeu que havia crescido o suficiente para se tornar uma força preponderante dentro da sociedade civil, capaz de influenciar os rumos da nação. Isso obrigou pastores e líderes a considerar o papel da igreja e da teologia diante dessa nova configuração social, e assim revisitar as fronteiras da intrincada relação da religião com a política.
O resultado, porém, não foi o esperado: a teologia pública evangélica (salvas as raras e positivas exceções) deixou de lado seu repertório ético, antropológico, metafísico, estético, epistemológico e bíblico, rebaixando-se a ponto de transformar a teologia pública em mera coluna política, rebaixando o teólogo público a um simples comentarista e ativista político.
Em vez de assumir o lugar de proposição intelectual e de protagonismo diaconal, a igreja evangélica tornou-se uma comunidade pautada pelas agendas políticas externas e batalhas culturais em todas as dimensões possíveis. A prova disso é que, na última década, a igreja evangélica tornou-se massa de manobra e teve sua consciência sequestrada pelas agendas conservadoras e progressistas.
Diante desse cenário, a Conferência Urbana 2025 convida pastores e líderes a considerar o exercício da teologia pública para além das fronteiras da política. A igreja evangélica brasileira tem muito mais a dizer, e com muito mais profundidade e elegância, a fim de que a contribuição da teologia evangélica na esfera pública alcance o fim para o qual realmente existe: a glória de Deus e o bem das criaturas de Deus no mundo de Deus.