Saio cavalgando minha loucura no papel. Meus dedos no lápis são insuficientes para conter a profusão do meu sentimento. Tudo fica registrado. Fica registrado o medo da revelação de minha alma louca e solta. Eu tenho medo que minha loucura te dê medo. Que minha loucura te afaste de mim.Agora eu não sei mais se posso confiar em ti, caro leitor. Se eu te mostrar tudo isso é por confiar demasiado em ti, em tua compreensão absoluta. Em teu lado maior. Em teu amor. Em tua loucura.
Se agora estás lendo isso é porque pude confiar em ti.
Minha alma está mais rasgada que tua fantasia.
Meu corpo está mais partido que teu desejo.
Enfia as tuas agulhas, acupunturista do amor, toca nos meus nervos, músico impaciente, toca nos meus nervos tensos e afinados a música que me embala e hipnotiza, que me vira do avesso, as veias, os músculos, as vísceras expostas numa partitura encarnada, molhada de sangue.
Tu és capaz de ouvir isso? És capaz de sentir assim?
Então não tenhas medo de mim
porque eu mesma já tenho o suficiente.
Se te mandar isso será impresso, e os manuscritos ficarão no fundo falso de meu armário, e jamais descobrirás que fui eu quem te escrevi. Jamais descobrirás que sou assim.
Égua louca.
Minha solidão não me deixa miragens. Estou só.
Nasci só, sempre fui só, mesmo quando tive um filho na barriga não me senti completa em mim mesma.
O silêncio sussurra nos meus ouvidos estás só estás só, e não adianta pensar que por estar te amando deixe de estar só nem que estejas em mim deixo de estar só.